segunda-feira, 16 de abril de 2012

O ato de ver/ler jornal é tema de exposição coletiva


A exposição “O jornal da imagem | imagem do jornal”, que integra a programação da Galeria de Arte Cemig 2012 a partir dessa terça-feira (17/4), foi elaborada em um grupo de pesquisa, o Bureau de Estudos sobre a Imagem e o Tempo, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e tem como referência o jornal como suporte, o que já esteve na mira de muitos artistas. O jornal apresenta em si um projeto gráfico, um texto, uma imagem, um desenho. Não raro é associado ao cartaz. A atenção dessa exposição é colocada sobre os trabalhos que utilizam esse suporte de fina espessura, mas de polivalente utilização, pois o jornal, em sua singularidade, existe também como multiplicidade, bem como suas maneiras de acolher a imagem e a forma.



A variedade imprevisível desse material que é o suporte de uma das atividades humanas — ler jornal — faz com que designe, do ponto de vista de sua materialidade e tatilidade, uma zona específica onde os gestos da mão induzem traços palpáveis. Já escutamos: nada mais simples do que um jornal. Algo simples, mas passível de suscitar o traço gestual, que ordena formas de ser do cotidiano na história de todos. Assim é o jornal, esse flexível material: lugar para fixar constelações de qualidades, dispondo sua superfície para nossas invenções e possibilidades.

O jornal está intrinsecamente ligado à cultura de massa, termo que designa uma forma relacionada à sociedade contemporânea e aos muitos objetos que lhe são destinados. Ele apareceu de forma mais definitiva no século 18 e se firmou ao mesmo tempo no período chamado “a era do papel”. Assim, foi contribuindo bastante para a ampliação de um público mais alfabetizado e evoluindo através de sua atuação social e política, sobretudo através da necessidade da liberdade de expressão e das técnicas e procedimentos de impressão.

Isso trouxe a questão da difusão da informação, criando a aculturação — fenômeno que resulta do contato direto e contínuo entre grupos de indivíduos de culturas diferentes levando às mudanças de hábitos e formas culturais — visto que pessoas de lugares distantes liam a mesma notícia e se informavam visualmente e literariamente pelo mesmo jornal. Mais tarde veio a difusão das imagens, revelando a problematização da sua exposição política.


Em seu texto A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, o filósofo Walter Benjamin nos diz que uma das grandes questões políticas do tempo em que vivia, o início do século 20, era o valor da exposição pela imagem, na qual somente a estrela — star —, o campeão esportivo e o ditador eram os vencedores.  E o jornal, como fonte “divulgativa” de imagens, não escapou dos apetites políticos de manipulação, sendo, apesar de tudo, um elemento de sobrevivência, que expõe conflitos, paradoxos e choques bem como a distorção e a espetacularização — características com as quais a história é tecida.

Patricia Franca-Huchet explora o poder da imagem e sua força no espaço da folha do jornal. Esconde o texto recobrindo as partes que lhe são destinadas com vinis coloridos criando espaços compositivos com a imagem. Resultam imagens que perdem o significado ilustrativo impondo sua presença mais silenciosa e “imageante”.

Gladston Costa propõe uma desconstrução da função comunicativa do jornal por meio da subtração dos textos e fotografias e da valorização dos elementos pictóricos que fundamentam uma lógica construtivo/informativa do jornal impresso. Destas ações plásticas resultam conjuntos de pinturas em que os códigos da comunicação de massa são esvaziados e mostrados como exemplificações de dispositivos contemporâneos de comunicação e consequentemente de produção ideológica.

Ricardo Burgarelli utiliza o jornal na busca de relações dialéticas com a imagem e as notícias a partir de um olhar crítico sobre elementos constitutivos da nossa política, história, sociedade e modo de inserção no mundo. Na exposição "Jornal da Imagem | Imagem do Jornal" é explorada em jornais de diversos países a repercussão mundial da execução dos anarquistas italianos Sacco e Vanzetti nos Estados Unidos.

Exposição Coletiva “Jornal da Imagem | Imagem do Jornal”
Gladston Costa
Patricia Franca-Huchet
Ricardo Burgarelli

Local: Galeria de Arte do Espaço Cultural da Cemig
Endereço: Avenida Barbacena, 1.200, Santo Agostinho – Belo Horizonte
Abertura: dia 17 de abril de 2012,  terça-feira às 20 horas
Período da exposição: de 18 de abril a 6 de maio de 2012, das 8 às 19 horas, inclusive sábados, domingos e feriados.

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