A
exposição “O jornal da imagem | imagem do jornal”, que integra a programação da
Galeria de Arte Cemig 2012 a partir dessa terça-feira (17/4), foi elaborada em um grupo de pesquisa, o Bureau de
Estudos sobre a Imagem e o Tempo, da Escola de Belas Artes da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) e tem como referência o jornal como suporte, o
que já esteve na mira de muitos artistas. O jornal apresenta em si um projeto
gráfico, um texto, uma imagem, um desenho. Não raro é associado ao cartaz. A
atenção dessa exposição é colocada sobre os trabalhos que utilizam esse suporte
de fina espessura, mas de polivalente utilização, pois o jornal, em sua
singularidade, existe também como multiplicidade, bem como suas maneiras de
acolher a imagem e a forma.
A
variedade imprevisível desse material que é o suporte de uma das atividades
humanas — ler jornal — faz com que designe, do ponto de vista de sua
materialidade e tatilidade, uma zona específica onde os gestos da mão induzem
traços palpáveis. Já escutamos: nada mais simples do que um jornal. Algo
simples, mas passível de suscitar o traço gestual, que ordena formas de ser do
cotidiano na história de todos. Assim é o jornal, esse flexível material: lugar
para fixar constelações de qualidades, dispondo sua superfície para nossas invenções
e possibilidades.
O
jornal está intrinsecamente ligado à cultura de massa, termo que designa uma
forma relacionada à sociedade contemporânea e aos muitos objetos que lhe são
destinados. Ele apareceu de forma mais definitiva no século 18 e se firmou ao
mesmo tempo no período chamado “a era do papel”. Assim, foi contribuindo
bastante para a ampliação de um público mais alfabetizado e evoluindo através
de sua atuação social e política, sobretudo através da necessidade da liberdade
de expressão e das técnicas e procedimentos de impressão.
Isso
trouxe a questão da difusão da informação, criando a aculturação — fenômeno que
resulta do contato direto e contínuo entre grupos de indivíduos de culturas
diferentes levando às mudanças de hábitos e formas culturais — visto que
pessoas de lugares distantes liam a mesma notícia e se informavam visualmente e
literariamente pelo mesmo jornal. Mais tarde veio a difusão das imagens,
revelando a problematização da sua exposição política.
Em seu texto A
obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, o filósofo Walter
Benjamin nos diz que uma das grandes questões políticas do tempo em que vivia,
o início do século 20, era o valor da exposição pela imagem, na qual somente a
estrela — star —, o campeão esportivo e o ditador eram os
vencedores. E o jornal, como fonte “divulgativa” de imagens, não escapou
dos apetites políticos de manipulação, sendo, apesar de tudo, um elemento de
sobrevivência, que expõe conflitos, paradoxos e choques bem como a distorção e
a espetacularização — características com as quais a história é tecida.
Patricia
Franca-Huchet
explora o poder da imagem e sua força no espaço da folha do jornal. Esconde o
texto recobrindo as partes que lhe são destinadas com vinis coloridos criando
espaços compositivos com a imagem. Resultam imagens que perdem o significado
ilustrativo impondo sua presença mais silenciosa e “imageante”.
Gladston Costa propõe uma
desconstrução da função comunicativa do jornal por meio da subtração dos textos
e fotografias e da valorização dos elementos pictóricos que fundamentam uma
lógica construtivo/informativa do jornal impresso. Destas ações plásticas
resultam conjuntos de pinturas em que os códigos da comunicação de massa são
esvaziados e mostrados como exemplificações de dispositivos contemporâneos de
comunicação e consequentemente de produção ideológica.
Ricardo
Burgarelli utiliza o jornal na busca de relações dialéticas
com a imagem e as notícias a partir de um olhar crítico sobre elementos constitutivos
da nossa política, história, sociedade e modo de inserção no mundo. Na
exposição "Jornal da Imagem | Imagem do Jornal" é explorada em
jornais de diversos países a repercussão mundial da execução dos anarquistas
italianos Sacco e Vanzetti nos Estados Unidos.
Exposição
Coletiva “Jornal da Imagem | Imagem do Jornal”
Gladston
Costa
Patricia
Franca-Huchet
Ricardo
Burgarelli
Local:
Galeria de Arte do Espaço Cultural da Cemig
Endereço:
Avenida Barbacena, 1.200, Santo Agostinho – Belo Horizonte
Abertura: dia
17 de abril de 2012, terça-feira às 20 horas
Período
da exposição: de 18 de abril a 6 de maio de 2012, das 8 às 19 horas,
inclusive sábados, domingos e feriados.
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